quarta-feira, 29 de julho de 2009

O jogo dos números e os fretados.

Incrível como os políticos utilizam-se de certas estratégias para mostrar "certas melhorias". O mais interessante, para mim, tem sido como a prefeitura de São Paulo tem "mostrado serviço" para melhorar o trânsito da cidade.

Lembra quando restringiram os caminhões no centro expandido, no ano passado? Pois bem, tudo começou em 30 de junho. O dia seguinte? Férias escolares; quando a cidade tem uma redução considerável nos índices de lentidão. O nobre leitor percebeu as melhorias do trânsito quando os caminhões pararam de circular do seu lado? Sem dúvida, a fluidez melhorou em julho. Mas não foi porque o transporte de carga saiu de circulação, e sim, porque os pais que param em fila dupla para entregar os filhos e os universitários motorizados não estavam rodando por aí. E não deu outra. Na primeira semana de agosto, os tradicionais 200 km de congestionamento.

Mas voltando a 2009...
Mais uma ação do prefeito que mais promove o automóvel. Agora, a restrição de ônibus fretados em uma área de 70 km². E advinhe quando ele foi adotado. Em julho! Mais precisamente na última segunda, dia 27. E a prefeitura já comemora o resultado de tão revolucionária iniciativa, com redução de até 13,1% nos índices de congestionamentos na comparação com os outros dias de julho e uma diminuição de 73% na Paulista no horário de pico em relação às outras segundas do mês. Uau! Parabéns prefeito Kassab.

Mas espera aí! Esses número não resistem a uma "segunda olhada", mas mesmo assim, é fácil jogar esses números para a grande mídia reproduzir. É para isso que as assessorias de imprensa servem.

Voltando aos números, a comparação do primeiro dia foi com os demais deste mês (pelo menos segundo a matéria da Folha Online). Aí já é possível ver um problema. Quem dirige ou usa o ônibus sabe que segunda é um dia de trânsito mais tranquilo, quando comparado com os demais dias da semana, principalmente quinta e sexta. Lógico que sendo uma segunda, o dia 27 terá um índice de lentidão baixo, comparado com a média do mês. Ainda não fiz o cálculo dos índices médios de cada dia da semana, por isso não posso disponibilizar esse dados com mais precisão, mas quem quiser verificar esses números pessoalmente, existe endereço. Uma coisa é certa para quem lê esses índices: sexta é pior que segunda.

Quanto aos 73% de melhorias na Paulista, ainda é cedo para dizer. A amostra de comparação é muito pequena: apenas 4 dias. Sem contar que a Paulista tem apenas 3 km. Qualquer incidente (não precisa ser um acidente), pode gerar 2 km de congestionamentos na avenida.

Mas, então não houve nenhuma melhoria? Talvez sim, afinal, numa cidade como São Paulo, algumas centenas de ônibus a menos faz uma diferença enorme para a fluidez do trânsito. No entanto, a julgar pelas manifestações de ontem e anteontem, os usuários de fretados não terão muita paciência para continuar na peregrinação diária pós-restrição-dos-fretados. Muitos deles trocarão os ônibus por carros, devido ao (falso) conforto. Outros simplesmente o farão depois de perder a possibilidade de usar os fretados, pois algumas linhas irão desaparecer por falta de usuários. Logo as melhorias, se HOUVER DE FATO, durarão muito pouco e a situação tende a piorar, uma vez que boa parte desses usuários de fretados passarão a usar o automóvel. Segundo o diretor da TTC Engenharia de Tráfego, Elmir Germani, "Se de cada ônibus, quatro pessoas optarem pelo carro já teremos o mesmo estrago".

Resumindo, é cedo para dizer se houve melhora e a tendência é piorar. Qualquer afirmação sobre uma fluidez maior é baseados em números que não representam uma boa amostragem, e pior, números que muitas vezes confessam sob tortura. O que o secretário Alexandre Moraes diz faz parte apenas de uma guerra psicológica, para promover e justificar suas ações na Secretária dos Transportes. E a grande mídia é aliada do Secretário ao divulgar tais números sem questionar sua validade.

Ps. Eu defendo uma regulamentação para os ônibus fretados, afinal, eles não podem ficar acima da lei. Mas simplesmente fazer-lhes desaparecerem da noite para o dia foi burrice.



quinta-feira, 23 de julho de 2009

Japão: a sociedade pós-automóvel?

Enquanto no Brasil, prevê-se que este ano haverá um recorde vendas de automóveis, no outro lado do planeta, a indústria automotiva não terá nada para comemorar. As vendas de carros no Japão tem despencado desde o começo da década de 90, quando atingiu o apogeu com 7,8 milhões de unidades, com uma pequena recuperação no meio do decênio. Em 2008, foram vendidos 5,1 milhões de carros. Este ano esperasse que as vendas fiquem abaixo dos 5 milhões de unidades, algo que não ocorre a 3 décadas.

Mas o que acontece no país onde nasceu a Toyota e a Honda? Quando se pensa na queda de vendas de automóveis, a primeira coisa que vem a cabeça é a recente crise econômica. Mas ela não explica o porquê da queda contínua desde os anos 90. A explicação estaria na estagnação dessa década, além de um começo de século 21 que foi exatamente o oposto da euforia que se viu nos anos 70 e 80.

Mas, aos problemas econômicos some a isso mais uma questão. Como os japoneses, principalmente os mais jovens, veem o automóvel? Nas grandes metrópoles, onde se paga até 300 dólares por uma vaga numa garagem, congestionamentos são uma constante e o sistema de transporte público é eficiente, ter um carro representa muito mais um problema do que uma solução. Para o jovem japonês, ter uma carro já não vale a pena. Esse fenômeno, onde os jovens não conseguem mais ser atingidos pelos apelos do automóvel, já tem nome: Wakamono no kuruma-banare (literalmente, distanciamento do carro pelos jovens).

E se formos além das razões práticas, parece também que houve uma perda dos apelos emocionais de se ter um automóvel. Para esses jovens o carro já não representa mais um símbolo de status. Em artigo da Newsweek, Kimiyuki Suda, um executivo de uma empresa de serviços on-line, não tem carro e simplesmente acha que ter um "é tão século 20". Para esses jovens, um automóvel nada mais é que um ferramenta. Um equipamento para levar de A a B. Se ele não funcionam de forma correta, ou se existe outras alternativas mais baratas, por que ter um carro?
A indústria automobilística culpa os eletrônicos e a internet: para eles os jovens estão mais interessados em computadores, celulares com múltiplas funções e acesso a web barato e rápido. E eles tentam se adaptar a esses tempos: designs que visam o público feminino, principalmente jovem e urbano; garotos propaganda famosos; tudo para chamar a atenção desse público.

Mas, e o futuro? Bem, obviamente que o automóvel não vai desaparecer. No entanto, cada vez mais ele perderá boa parte do poder de atração que exercia sobre os japoneses. Cada vez mais eles verão o carro como algo que sempre foi, uma ferramenta de ir de A para B. Uma máquina como uma lavadora de roupas ou um aspirador de pó. E, dependendo de onde você mora, não fará nenhum sentido ter um. Isso quer dizer que cada vez menos pessoas nas grandes cidades terão automóveis próprios. Eu disse próprios? Sim. Os lucros de empresas de aluguel de carros só tem aumentado. Cada vez mais pessoas apenas alugam um carro para um passeio ou uma viagem de final-de-semana. Durante a semana? Transporte público, bicicleta e andar a pé. Lógico que em zonas rurais as pessoas ainda usarão muito o automóvel, por razões óbvias. Lembro que fiz um homestay em uma família que produzia arroz no interior de Ishikawa. Essa família, de 4 pessoas, possuía 5 veículos: 3 carros, um caminhão e um trator. O centro da cidade ficava a aproximadamente a 15 km de distância. Bem talvez nessas situações, poderemos encontrar mais facilmente um jovem japonês que tenha um carro.

Creio que essa tendência logo chegará a Europa, onde também ter um carro é custoso. E onde ficaria o futuro das montadoras? Nos países emergentes e nos EUA. Ou seja, dia piores virão aos que moram nas grandes cidades brasileiras.



Mais aqui, aqui e aqui.

Pergunta ciclística...

As pessoas que utilizam a bicicleta como transporte tem tempo para blogar e twitar por que:

a) não perdem tempo no trânsito, por isso, dispõem de mais tempo livre?

b) conseguem manipular o tempo/espaço?

c) não precisam perder tempo em academias pois já pedalam?

d) são vagabundos?



Pensei nessa pergunta porque vejo comentários de idiotas em posts de blogs acusando ciclistas de ecochatos e vagabundos. Mas afinal, de onde essas pessoas tiram a idéia de que ciclistas = desocupados? Quanto a ecochatos... bem, melhor ser ecochato que conservador.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Só faltava essa agora.

Prefeitura planeja proibir pedestre de circular no centro expandido

Leda Prazeres
da Agência CETB

Até o fim deste ano a gestão Gilberto Kasab (DEM) vai proibir a circulação de pedestres no centro expandido. A medida pode ser ampliada para o Largo do Socorro e, em horários de pico, para o Terminal Cachoeirinha.

As medidas se baseiam em estatísticas da CET que mostram uma redução de 72% nos congestionamentos caso não houvesse travessias de pedestres, segundo informa o secretário dos Transportes, Alexandre de Morais. Os transeuntes atrapalham muito a fluidez do transito, salienta Moraes.

Estão sendo estudados meios alternativos aos pedestres que precisam obrigatoriamente seguir para as áreas restritas.

Também esta em estudo rodízio para pedestre que funcionará da seguinte maneira, segundo explicação do próprio prefeito: as segundas, quartas e sexta-feira só serão permito circular as mulheres; as terças, quintas e domingo os homens. O sábado será liberado e ambos os sexos poderão circular livremente pelo centro expandido.

Quando não houver alternativa, o pedestre poderá pedir autorização especial de tráfego à área técnica da Secretaria dos Transportes, que estabelecerá condições e horários.

As constantes mudanças nas regras de circulação na capital são contestadas por quem não tem carro.

"Por que a prefeitura não impede que os carros rodem com apenas uma pessoa dentro? Os congestionamentos não são causados pelos pedestres", disse Helena Jacinto Pinto, 44, que há cinco anos trocou o carro e só se locomove a pé.

Ok, pessoal. É cômico e satírico. Mas, poderia ser real, frente ao desespero da Prefeitura de São Paulo para melhorar a fluidez, em detrimento da segurança no trânsito. Basta ver aqui. E que tal ver aqui também?

Palmas para o Palmas (eu sei, foi infame), da lista da Bicicletada.


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Oscar Freire cria o "vale-suma-daqui"

"Pobre aqui não!!!"

Mais uma da casa grande. A nova ação dos lojistas dos Jardins não é o plantio de mais árvores (que é bem-vindo), nem o design novo de bancos nas calçadas, mas o Vale Valor. Um mimo para o pedinte que vier lhe abordar. No lugar de esmolas, você dá um ticket para que essa pessoa possa usá-la na Casa Restaura-me, uma instituição assistencial... que fica a 15 km de distância do paraíso da elite paulistana.

Isso mesmo! A 15 km de distância. Mais precisamente no bairro do Brás. Mas infelizmente, os lojistas não pensaram em tudo e não disponibilizaram um serviço de sedãs com motoristas ou mesmo de vans para levar a plebe para tão longe.

E obviamente que as madames aplaudem. Que tal dar uma olhada na RG Vogue, que inclusive, tem espaço para comentários (se vai ser publicado, já é outra história). Simplesmente, a (nova) casa grande não quer o povaréu por perto, e por isso, manda de volta para a senzala. Plebe aqui, só se for a criadagem.