terça-feira, 17 de março de 2009

São Paulo não é uma cidade plana. E daí?

Uma das justificativas para a não utilização da bicicleta como meio de transporte em São Paulo é a sua topografia. "São Paulo não é plana como Amsterdam" ou "São Paulo tem muito morros" são desculpas que ouço de pessoas que não querem aceitar o fato de que a cidade não comporta mais automóveis. E cada vez que leio, ouço ou vejo tal afirmação, a única coisa que vem à cabeça é preguiça. Bem, poderia desmascarar tal falácia com várias argumentos, mas invés disso, irei apenas traduzir um texto do blog Copenhagenize escrito por Mikael Colville-Andersen. Segue abaixo a tradução.


Existe um comentário que sempre vejo no Copenhagenize.com: "Pedala-se muito na Dinamarca e nos Países Baixos porque são países planos..."

Não estamos tentando desmascarar o mito de que esses países são planos. De fato, comparado com Andorra, eles são. Mas as características geográficas dessas duas nações, e suas capitais tem pouco a ver com o fato de tantas pessoas pedalarem por aqui.

É na verdade uma questão mais política e histórica. Quando a Revolução da Bicicleta 1.0 varreu o planeta no final do século XIX e início do século XX, todo mundo, em qualquer lugar do mundo industrializado, pedalava uma bike. A bicicleta libertou a mulher e a classe trabalhadora.

Na Dinamarca e nos Países Baixo, como em qualquer lugar, havia associações de ciclistas. Quando o ciclismo virou um esporte - fato que aconteceu rápido e com grande impacto - muitas dessas associações tiveram que competir com associações esportivas de ciclismo. Nos Países Baixos, a bicicleta era vista como uma atividade social para a povo, com muitos benefícios sociais. Eles até baniram as corridas de bicicletas por um tempo para preservar a bicicleta com parte integral da cultura.

Na Dinamarca, desde o início, a associação de ciclistas era bem organizada e politicamente ativa, e permaneceu assim ao longo do século XX. Nos dois países, as associações era poderosas e militantes da cultura ciclística e ela eram ouvidas.

E nós nos beneficiamos disso atualmente. É por ISSO que nós pedalamos, não porque as cidades são planas.

Para as montanhas!
Se nós estamos derrubando o mito dos lugares planos, simplesmente devemos ir para a Suiça. A cidade de Basiléia foi construída sobre encostas do vale do Reno e mesmo assim 23% de seus deslocamentos é feito de bicicleta.

E Berna, onde muitas vias têm inclinção de até 7%, esse índice é de 15%.

Sem falar de Oslo, Estocolmo, Gotemburgo e a segunda maior cidade da Dinamarca, Aarhus. Todos com relevos acidentados.

Na verdade, não existe muitas situações que impossibilitem o uso da bicicleta. Os únicos fatores climáticos que podem realmente dissuadir um ciclista seria chuva torrencial ou calor extremo.
Roupas apropriadas e infraestrutura no destino [chuveiros e vestiários, por exemplo] reduzem o impacto negativo de condições climáticas, o que é bem menos compatível com o ciclismo diário do que imaginado.

Subidas não são obstáculos insignificantes para ciclistas sem treino, usando bicicletas velhas e incompatíveis em cidades onde ladeiras com inclinação maior que 5º são longas e numerosas.

Mas, mesmo sob essas circunstâncias, existe potencial para o ciclismo, como se pode verificar em Trondheim (Noruega), cidade onde 8% dos deslocamentos é feito em bikes e é equipada com o primeiro elevador de bicicletas do mundo.

E sobre países planos como Dinamarca e Países Baixos... as pessoas nunca falam sobre o vento. O Mar do Norte adora nossos países planos e fará de tudo para derrubar-nos de nossas bicicletas. Em vão, gostaríamos de acrescentar, se pedalar para o trabalho com a gana de um furacão numa manhã escura de janeiro.

Não somos os únicos

E já que estamos aqui, vamos nos livrar do mito de que apenas Copenhagen e Amsterdam pedalam como o vento.

Vamos encarar esse fato: bikes são usadas regularmente em quase toda a Europa. Principalmente no Norte, uma vez que em parte do Sul do continente ela é vista mais como um brinquedo de criança ou um equipamento esportivo.

Então, vejamos as cidades da Europa frequentemente citadas como tendo alto índice de deslocamento em bikes[comparadas com outras regiões] .

Em Parma, na região italiana de Emília-Romanha, 19% das viagens são feitas de bicicleta. Para efeito de comparação, a cidade de Davis, na Califórnia, tem um índice de 17%, um dos mais altos dos EUA.

E tem Ferrara, também n
a Itália, cerca de 50km de Bolonha. Lá 31% dos deslocamentos entre a casa e o trabalho são em bikes.

E também existe
Västerås, no meio da Suécia. Gelado no inverno, e mesmo assim, 33% de viagens são em bicicletas.

Chove-se com frequencia em Cambridge, Reino Unido. Mas isso não desencoraja seu habitantes de fazerem 27% de seus deslocamentos sobre duas rodas com propulsão humana.

Muitas cidades alemãs também desfrutam de uma cultura da bike. Em Münster, 30% de todas as viagens são feitas de bicicleta. E agora que Berlin e Paris, sem mencionar Barcelona e outras cidades, estão investindo em infraestrutura ciclística, o uso de bikes na Europa está em rápido crescimento.Existe programas de bicicletas públicas em mais de 60 cidades e o número continua a crescer.

Não importa o tamanho
Muitas cidades norte-americanas são, de fato, dispersões urbanas mas também ouvimos pessoas comentando que de fato as cidades americanas são muito grandes para pedalar em comparação com cidades européias.

Claro, se você escolhe morar em um subúrbio distante, poderá percorrer grandes distâncias, mas não terá realmente muita diferença em relação a cidades com aproximadamente a mesma população.

E se realmente quer pedalar, você dará um jeito.

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