terça-feira, 30 de setembro de 2008

Além mar....

São 3 da manhã e sou acometido por uma terrível insônia. Simplesmente não consigo dormir. Pois decido dar uma olhada no site português Menos Um Carro, um blog que, assim como sua contraparte brasileira, Apocalipse Motorizado, denúncia os problemas de uma sociedade extremamente motorizada. Eis que me deparo com um texto extremamente conciso e ao mesmo tempo direto sobre a relação que existe entre as opções políticas e o uso da bicicleta. Sem dúvida, muitos de nós escolhe a bicicleta como meio de transporte apenas por questões pessoais, tais como saúde, tempo de deslocamento, economia "individual", mas há também os que optam por questões e posições políticas. Sim, a bicicleta representa uma opção ecologicamente correta (num mundo onde aquecimento global virou tema de botequim), mais humana (numa sociedade que naturalizou a forma como ocupamos as ruas nas grandes cidades), bem como mais econômica para a sociedade.

Enfim, espero que o texto que se segue leve a reflexões de como nossos atos cotidianos têm implicações sobre a sociedade que vivemos. Estarei eu super estimando nossas escolhas? Não, pois, como indivíduos dentro da sociedade, influenciamos os que estão ao nosso redor. Sim, acredito que a despeito das decepções da política partidária, continuamos a ser o Homo politicus, vivendo a Política (com p maiúsculo) todos os dias em ações mínimas.

Bem, chega de encher lingüiça... o texto, de 24 de setembro do blog Menos um Carro

"A bicicleta é política

A semana da mobilidade findou há poucos dias. Foi impossível não reparar na avalanche de notícias que assaltaram os jornais, a rádio e a televisão; algumas reportam escolhas individuais de pessoas que optaram pela bicicleta como meio de transporte; outras, anunciavam programas ambiciosos de apoio à circulação da bicicleta por várias autarquias ou programas mais abrangentes de apoio à mobilidade, complementando as ciclovias com a implementação de zonas 30 ou uma linha de transportes públicos mais robusta.

Poderá afirmar-se também que o dia sem carros, no dia 22 de Setembro, constitui o píncaro duma semana em que o objectivo é precisamente demonstrar que a possibilidade duma comunidade funcional e aprazível não está necessariamente vinculada à existência de carros.
E no entanto todas as medidas, quando assomam assim abruptas, numa semana que lhes está consagrada, pecam por serem apenas propaganda e prometerem o futuro. É digno e salutar que os órgãos de poder sublinhem e promovam alternativas à mobilidade, mas enquanto a semana de mobilidade for uma semana de excepção continuaremos a ir a reboque dos dirigentes ou a desaguar em queixumes comiserados. O exemplo tem que partir dos próprios cidadãos e do pleno exercício dos seus direitos; e esses direitos obrigam à participação na vida pública e à exigência contínua duma melhor qualidade de vida.
E é nesta questão que o simples acto de escolher como cada um pretende deslocar-se envolve várias considerações não negligenciáveis. Andar de bicicleta não é só escolher o mais sustentável e quiçá o mais elegante dos transportes; é também não andar de automóvel. Ou seja, ao pedalar até ao meu destino escolho minguar a minha participação na exploração de um recurso finito e que além de poluente está na génese de inúmeros conflitos geopolíticos; escolho reduzir a dependência energética do meu país, no qual o sector dos transportes afecta de modo determinante a carga energética associada à produtividade (estatísticas da Direcção Geral de Energia 2007).
A um nível mais local, não prejudico a ocupação do espaço público e contribuo para uma cidade mais saudável; não meço as ruas somente como locais de passagem mas como potenciais sítios de paragem. Acima de tudo não patrocino essa impúdica e desenfreada indústria que é a construção civil e todos os grupos de interesse que ela alimenta; todas as suas supérfluas edificações, estradas e futuras pontes e políticos que lhes estão associadas pela raiz mais podre: a corrupção e a promiscuidade entre empresas e partidos.
Sem fundamentalismos, sem demagogias, sem nenhuma grande narrativa que lhe esteja associada. A bicicleta é apenas o meio de transporte mais eficiente que existe hoje em dia e ao lhe aderirmos estamos simplesmente a ser racionais, pragmáticos e concretos. E no oceano de teorias, parágrafos e manifestos dos dias de hoje, é raro encontrarmos algo tão simples mas tão poderoso e que está já aqui ao nosso alcance."

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