quinta-feira, 23 de julho de 2009

Japão: a sociedade pós-automóvel?

Enquanto no Brasil, prevê-se que este ano haverá um recorde vendas de automóveis, no outro lado do planeta, a indústria automotiva não terá nada para comemorar. As vendas de carros no Japão tem despencado desde o começo da década de 90, quando atingiu o apogeu com 7,8 milhões de unidades, com uma pequena recuperação no meio do decênio. Em 2008, foram vendidos 5,1 milhões de carros. Este ano esperasse que as vendas fiquem abaixo dos 5 milhões de unidades, algo que não ocorre a 3 décadas.

Mas o que acontece no país onde nasceu a Toyota e a Honda? Quando se pensa na queda de vendas de automóveis, a primeira coisa que vem a cabeça é a recente crise econômica. Mas ela não explica o porquê da queda contínua desde os anos 90. A explicação estaria na estagnação dessa década, além de um começo de século 21 que foi exatamente o oposto da euforia que se viu nos anos 70 e 80.

Mas, aos problemas econômicos some a isso mais uma questão. Como os japoneses, principalmente os mais jovens, veem o automóvel? Nas grandes metrópoles, onde se paga até 300 dólares por uma vaga numa garagem, congestionamentos são uma constante e o sistema de transporte público é eficiente, ter um carro representa muito mais um problema do que uma solução. Para o jovem japonês, ter uma carro já não vale a pena. Esse fenômeno, onde os jovens não conseguem mais ser atingidos pelos apelos do automóvel, já tem nome: Wakamono no kuruma-banare (literalmente, distanciamento do carro pelos jovens).

E se formos além das razões práticas, parece também que houve uma perda dos apelos emocionais de se ter um automóvel. Para esses jovens o carro já não representa mais um símbolo de status. Em artigo da Newsweek, Kimiyuki Suda, um executivo de uma empresa de serviços on-line, não tem carro e simplesmente acha que ter um "é tão século 20". Para esses jovens, um automóvel nada mais é que um ferramenta. Um equipamento para levar de A a B. Se ele não funcionam de forma correta, ou se existe outras alternativas mais baratas, por que ter um carro?
A indústria automobilística culpa os eletrônicos e a internet: para eles os jovens estão mais interessados em computadores, celulares com múltiplas funções e acesso a web barato e rápido. E eles tentam se adaptar a esses tempos: designs que visam o público feminino, principalmente jovem e urbano; garotos propaganda famosos; tudo para chamar a atenção desse público.

Mas, e o futuro? Bem, obviamente que o automóvel não vai desaparecer. No entanto, cada vez mais ele perderá boa parte do poder de atração que exercia sobre os japoneses. Cada vez mais eles verão o carro como algo que sempre foi, uma ferramenta de ir de A para B. Uma máquina como uma lavadora de roupas ou um aspirador de pó. E, dependendo de onde você mora, não fará nenhum sentido ter um. Isso quer dizer que cada vez menos pessoas nas grandes cidades terão automóveis próprios. Eu disse próprios? Sim. Os lucros de empresas de aluguel de carros só tem aumentado. Cada vez mais pessoas apenas alugam um carro para um passeio ou uma viagem de final-de-semana. Durante a semana? Transporte público, bicicleta e andar a pé. Lógico que em zonas rurais as pessoas ainda usarão muito o automóvel, por razões óbvias. Lembro que fiz um homestay em uma família que produzia arroz no interior de Ishikawa. Essa família, de 4 pessoas, possuía 5 veículos: 3 carros, um caminhão e um trator. O centro da cidade ficava a aproximadamente a 15 km de distância. Bem talvez nessas situações, poderemos encontrar mais facilmente um jovem japonês que tenha um carro.

Creio que essa tendência logo chegará a Europa, onde também ter um carro é custoso. E onde ficaria o futuro das montadoras? Nos países emergentes e nos EUA. Ou seja, dia piores virão aos que moram nas grandes cidades brasileiras.



Mais aqui, aqui e aqui.

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