segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Um filme novo com golfinhos

Estreou nos EUA o documentário "The Cove", onde o ex-treinador de golfinhos, Ric O'Barry mostra a matança do cetáceo na pequena cidade de Taiji, no Japão. O filme é resultado de um esforço para mostrar o lado sombrio de uma cidade que a primeira vista parece até ser bem simpática, com sua fonte em forma de cauda de baleia e várias outras referências (estilizadas ou não) ao mamífero, mas que, na verdade, está "escondendo algo".

O que esta edílica cidade esconde? A carnificina de golfinhos, realizada anualmente em sua baía, onde estes animais são cercados em redes, sem nenhuma chance de escapar. Os 'mais aptos" acabam sendo vendidos para parques aquáticos, enquanto a maioria é abatida para serem vendidos em mercados como iguarias.

A justificativa é a mesma da caça a baleias: a de que cetáceos são parte de dieta japonesa a séculos e fazem parte de uma tradição, e que qualquer ataque a essa prática representa uma afronta a cultura de um povo. Argumento que se mostra fraco, quando se observa que uma parcela muito pequena da população japonesa consome carne de baleia ou golfinhos*. Pesquisa recente mostra que a maioria da população não é favorável a caça de baleias.

Outro argumento a favor da indústria baleeira é econômica: a de que famílias dependem da caça a cetáceos. No entanto, ela também pode ser derrubada quando observa-se que ela é parte muito pequena da econômica japonesa e além de depender de subsídios do governo, na ordem de 1,2 bilhão de ienes (12 milhões de dólares). Além disso, a atividade de "whale watching" se mostra mais rentável, sendo uma parte da indústria turística que só tem crescido nos últimos anos. Em 2008, segundo relatório do Fundo Internacional para Vida Animal e seu Habitat (IFAW), a atividade de observação de baleias empregou mais de 13 mil pessoas em 119 países, movimentando 2,1 bilhões de dólares.

Voltando ao filme. A produção empregou técnicas de investigação que parecem terem saído de um filme de espionagem, utilizando câmeras escondidas em aeromodelos, ninhos falsos de pássaros, pedras falsas, além de técnicas de camuflagem, para que a equipe pudesse penetrar em território "inimigo".

Produção que coleciona alguns prêmios, entre eles a Escolha do Público do Festival de Sundance, infelizmente, não tem previsão para estrear no Brasil. Por enquanto, fiquem com o trailer e mais um vídeo que encontrei na web. Aviso: o segundo vídeo tem cenas muito fortes.



*Particularmente, lembro de ter visto esse tipo de "iguaria" apenas uma vez (numa loja especializada chamada Yushin, que fechará suas portas em 2010). Não que não houvesse restaurantes que sirvam carne de baleia (sei de um, ligada ao Yushin), mas estes acabam entrando num rol de bizarrices tão raras, que fica a pergunta de até que ponto realmente o consumo de cetáceos fazem parte da cultura gastronômica japonesa hoje em dia.

Uma vez, entrei em choque com um grupo a favor do consumo de baleia, na Universidade de Waseda. Eles argumentavam que a cruzada anti-baleeira tem interesses políticos e estava a serviço de grupos estrangeiros. Quem disse que não existe mais o nacionalismo japonês? São estes indíviduos que criam sentimentos anti-nipônicos. Juro que deu vontade de pular no pescoço de algumas dessas pessoas.

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