segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Tá com preguiça de pedalar, acha que mora longe do trabalho? Leia isso.

Retirado do blog de Silvio Tambara, que por sua vez retirou de um e-mail do nosso amigo Canna.

Para aqueles que vivem criando desculpas para não pedalar, mesmo que as condições sejam favoráveis, e continuam a poluir e congestionar. Para a classe média que mora tão perto do trabalho e mesmo assim acham que não compensa deixar o carro em casa.


E pensando aqui, me lembro de uma passagem uns tempos atrás:

Estava na bicicletaria, trocando meus pneus 2.0 novinhos por dois 1.5 slicks, pois os largos não me agradavam. Pagava R$ 25 paus em cada pneu, mais as câmeras novas...sem pensar muito que estava gastando uns 70 reais ali, graças a Deus não me fazem falta.

Enquanto aguardo, um rapaz bem simples, com uniforme de empresa e uma bike toda fudida chega perguntando quanto era um pneu novo. A bike dele era uma mountain bike toda ferrada, com roda dianteira com aro diferente da traseira, os pneus estavam um caco, sem freio traseiro...

Puxei assunto e ele me disse que ia para o trabalho todo dia de bicicleta, fiz uns cálculos e ele pedalava uns 40km por dia. Disse que fazia supermercado, tudo ele ia de bike pois era mais rápido e fazia bem pra saúde.

Ao saber o preço do pneu mais barato, descartou a compra pois nitidamente não tinha a grana para comprá-lo.

A minha ficha caiu. Ofereci meus dois pneus com as respectivas câmeras. Ele achou meio estranho e perguntou quanto era. Disse que não era nada, eu ia entulhar isso em casa e pedi pro cara da bicicletaria arrumar uma roda 26 usada pra ele montar com os pneus que dei.

O cara abre a carteira, saca os únicos 10 reais que tinha e me oferece. Me senti um lixo. Falei pra ele que ficaria muito feliz em saber que ele iria usar os pneus e que dos amigos não se cobra nada.

Os olhos do cara encheram de lágrimas...

Eu vivo lamentando os números da empresa, que eu perdi ali, que eu ganhei ali...catzo, eu tenho um monte de bicicletas, todas do jeito que quero, poderia me sentir um cara realizado, e acho que pedalo muita coisa...

Eu sou na realidade um merda...quem pedala são estes guerreiros. Eles são os ciclistas urbanos, percorrem distâncias diárias gigantes com uns trambolhos daqueles, só com freio traseiro. Nem fazem idéia do que a bicicleta representa no trânsito ou os direitos que têm, eles só querem pedalar e chegar vivos em casa.

Tem situações que fazem a gente pensar: o que faz encontramos estas pessoas para deixarmos de reclamar um pouco e olhar pro cara que tá do seu lado?

Acho que se as bicicletas não forem para todos, não serão para ninguém.

É isso.

Canna


É em nome desses guerreiros que muitos saem em bicicletadas, manifestações, enfrentam a polícia. E eles são uma das razões que transformou a bicicleta em algo político. Quando se pede segurança e estrutura para bicicletas não se pede apenas para os usuários de Treks, Cannondales e Scotts da vida, mas também para as pessoas, que muitas vezes saem da periferia para trabalhar para os que possuem tudo. Quando se fala a favor do chamado "pedágio urbano", se fala a favor dos que pegam trens cheios, pedalam distâncias homéricas ou andam quilômetros para chegar em casa.
O "pedágio urbano" prejudica o pobre? Lamento, mas os pobres (de verdade) não usam carros.

Um comentário:

Silvia D. Schiros disse...

Isaac, primeiro obrigada pela visita ao "Faça a sua parte".

Aqui onde eu moro (São José dos Campos, interior de SP), tem muita gente parecida com esse cara que seu amigo encontrou na loja de bicicletas. Eles enfrentam longas distâncias e o trânsito para irem trabalhar. Aos poucos, parece que a prefeitura anda investindo em ciclovias mais seguras, mas ainda há um longo caminho pela frente, ainda acho que investem mais em espaço para carros do que para gente e bicicletas...

Mas, para mim, realmente largar o carro de vez não é uma opção. E essa é uma escolha pessoal. Eu, sozinha, posso andar por aí de bike. Mas, quando se trata de levar as minhas filhas, não enfrentaria a rua de bike (elas têm 7 e 5 anos). Não enfrento mesmo. Eu admiro demais pessoas que abriram mão do carro, eu ainda não cheguei lá. Espero chegar um dia.